sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Porque corro?

Obrigada pela inspiração

"Era uma vez um homem que corria e corria pela vida... A vida era curta e necessitava de correr muito para gozar muito e ser feliz. E quanto mais corria, mais necessitava de correr! Descobria sempre mais lugares para visitar! Necessitava encontrar tudo e gozar de tudo.Até que um dia, cansado de tanto correr, parou. Então, a felicidade pôde alcançá-lo."


Sandra Rute - SSRAJ in Universos Alternativos

domingo, 30 de novembro de 2008

Encruzilhada


Ainda no contexto da mudança, venho falar-vos de escolhas com um texto transcrito da minha amiga e Psicóloga Élia. Apesar de ter sido escrito directamente para alguém penso que é uma mensagem universal e que pode servir a muitos. Aqui fica então.



"A vida não espera por ti.
Com isto, não quero dizer que não apareçam novas oportunidades e escolhas. Quero apenas dizer que amanhã as circunstâncias não serão iguais a hoje.
Eu sei que não está fácil, que te sentes dentro de um espaço pequeno, sem portas nem janelas, e a cada brecha de luz gritam-te aos ouvidos "Tens de fazer aquilo que está certo", "tens de pensar nos outros", "tens de fazer sacrifícios, toda a gente tem".
Ouve, aquilo que, mesmo sem consciência, te estão a dizer é "não abanes muito porque assim está bem - para nós!", "tens de fazer aquilo que está certo - para nós!", tens de fazer sacrifícios para que nós não o tenhamos de fazer!".
As nossas escolhas têm um preço. Podem chamar-lhe sacrifício, eu prefiro chamar-lhe preço. Há um preço a pagar pela tua liberdade. A eterna dúvida sobre se terá sido o melhor, menos dinheiro, uma casa mais pequena, muitos ajustes e o olhar de crítica dos outros sobre ti. A seu tempo, novas oportunidades, novas pessoas, novos desafios.
Há, também um preço, para ficares aí. Esse ninguém notará. Porque será interno. A desistência de todas as coisas que não viveste e que sentes que queres viver. O definhar, que eu já sinto em ti, a morte lenta de quem não acredita ter o direito de viver. Mas algum conforto, o orgulho dos outros por teres sido "uma boa menina". E, a seu tempo, novamente, novas oportunidades e novos desafios.
Nenhum é, realmente, melhor ou pior do que outro. O peso de cada escolha, está apenas no teu coração. Para mim, amiga, não importa o que escolhas. Dar-te-ei a mão."

Élia Gonçalves

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Mudança


O universo encarrega-se de uma forma sábia de nos fazer chegar sempre as mensagens que mais precisamos.
Esta chegou-me por mail, e reproduzo aqui para que, quem sabe, também vos possa ser util.
Obrigada mana.

"(...) O que te deixa inseguro é teres de abandonar um percurso ao qual já estavas habituado. Mas o hábito faz-te perder o prazer da travessia e as oportunidades de percorrer outros caminhos.

Portanto talvez encontres aquilo que, sem saberes ainda, procuras e necessitas. Por isso, não tenhas medo, não fujas perante uma mudança.
Não querias manter uma posição que já não te leva a parte alguma.
Tens de ser flexível e adaptar-te às circunstâncias porque, embora a princípio te custe entender, as mudanças são sempre para melhor e ajudam a evoluir para um nível superior.
Lentas ou vertiginosas, pacíficas ou violentas, desejadas ou não, as mudanças promovem o progresso.
Não te deixam estagnar ou murchar.
Trazem abundância e riqueza de bens à tua porta, para que tenhas oportunidades na vida, porque o movimento é a manifestação suprema da vida e da prosperidade.
A quietude e a rotina, pelo contrário, são sinónimas de estagnação e ocaso.
Por isso, decide-te e começa a mudar.
Rende-te ao movimento e vê com outros olhos o curso da vida.
Ela mesma te indica o momento propício para agires sem medo e aventurares-te a novos caminhos.

A mudança é um acto de fé.
Nasce da luta entre o velho e o novo.
Todas as mudanças respondem a forças superiores.
Por isso não há motivo para te arrependeres da transformação."

(I Ching, Hexagrama 49)

in Mudar é Possível, Do I Ching, arteplural edições, 2003

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Obstáculos





Este texto que reproduzo aqui, não é na realidade um conto, mas antes uma meditação guiada, delineada em forma de sonho destinado a explorar as verdadeiras razões de alguns dos nossos fracassos. Sugiro que o leia atentamente, tentando deter-se uns instantes em cada frase, visualizando cada situação.


Caminho por um trilho.

Deixo que os meus pés me levem.
Os meus olhos pousam-se nas árvores, nos pássaros, nas pedras.
No horizonte avista-se a silhueta de uma cidade.
Fixo nela o olhar para a distinguir bem.
Sinto que a cidade me atrai.
Sem saber como, dou conta de que nesta cidade posso encontrar tudo o que desejo.
Todas as minhas metas, todos os meus objectivos, todos os meus desejos.
Sei que as minhas mais profundas ambições e os meus sonhos estão nesta cidade.
Aquilo que quero conseguir, aquilo de que necessito, aquilo que mais gostaria de ser, aquilo que tento, aquilo pelo que trabalho, aquilo que sempre ambicionei, aquilo que seria o maior dos meus êxitos.
Imagino que tudo está nessa cidade.
Sem duvidar, começo a caminhar até ela.
Pouco depois de começar a andar o trilho por onde sigo começa a subir pela encosta acima.
Canso-me um pouco, mas não importa.
Sigo.
Avisto uma sombra negra, mais adiante no caminho.
Ao aproximar-me, vejo que uma enorme vala impede a minha passagem.
Receio...Duvido.
Desgosta-me não conseguir alcançar a minha meta facilmente.
De todas as maneiras decido saltar a vala.
Retrocedo, tomo o impulso e salto...
Consigo passá-la.
Recomponho-me e continuo a caminhar.
Uns metros mais adiante, aparece outra vala.
Volto a tomar impulso e também a salto.
Corro até à cidade: o caminho parece desimpedido.

Surpreende-me um abismo que detém o meu caminho.
Detenho-me.
É impossível saltá-lo.
Vejo que num dos lados há tábuas, pregos e ferramentas.
Dou-me conta de que estão ali para construir uma ponte.
Nunca fui habilidoso com as minhas mãos...
...penso em renunciar.
Olho para a meta que desejo... e resisto.
Começo a construir a ponte.
Passam horas, dias, meses.
A ponte está feita.
Emocionado, atravesso-a
e ao chegar ao outro lado...descubro o muro.
Um gigantesco muro frio e húmido rodeia a cidade dos meus sonhos...
Sinto-me abatido...
Procuro a maneira de o evitar.
Não há forma.
Tenho de o escalar.
A cidade está tão perto...
Não deixarei que o muro impeça a minha passagem.
Proponho-me trepar.
Descanso uns minutos e tomo ar...

Rapidamente vejo,
de um lado do caminho,
uma criança que olha para mim como se me conhecesse.
Sorri-me com cumplicidade.
Faz-me vir à memória como eu próprio era... quando criança.
Talvez por isso me atrevo a expressar em voz alta a minha queixa

-Porquê tantos obstáculos entre o meu objectivo e eu?

A criança encolhe os ombros e responde-me

-Porque me perguntas a mim?
Os obstáculos não existiam antes de tu chegares...
Foste tu que trouxeste os obstáculos.

Jorge Bucay, in "Contos para Pensar"- pp.79-81

domingo, 7 de setembro de 2008

A cidade dos poços

Era uma vez uma cidade habitada por poços.
Os poços distinguiam-se entre si não somente pelo lugar onde estavam escavados, mas também pelo parapeito que os ligava ao exterior.
Havia poços ricos e ostensivos com parapeitos de mármore e metais preciosos; poços humildes de tijolo e madeira e outros mais pobres , simples buracos rasos que se abriam na terra.
A comunicação entre os habitantes da cidade fazia-se de parapeito em parapeito, e as notícias corriam rapidamente de ponta a ponta do povoado.
Um dia chegou à cidade uma “moda” vinda certamente de algum povoado humano.
A nova ideia assinalava que qualquer ser vivo que se prezasse deveria cuidar muito mais do interior do que do exterior. O importante não era o superficial, mas o conteúdo.
Foi assim que os poços passaram a encher-se de coisas.
Alguns enchiam-se de jóias, moedas de ouro e pedras preciosas.
Outros, mais práticos, encheram-se de electrodomésticos e aparelhos mecânicos. Outros ainda optaram pela arte, e foram-se enchendo de pinturas, pianos de cauda e sofisticadas esculturas pós-modernas.
Finalmente, os intelectuais encheram-se de livros, de manifestos ideológicos e de revistas especializadas.
O tempo passou.
A maioria dos poços encheu-se a tal ponto que já não podia conter mais nada.
Os poços não eram todos iguais, por isso, embora alguns se tenham conformado, outros pensaram no que teriam de fazer para continuar a meter coisas no seu interior…
Um deles foi o primeiro. Em vez de apertar o conteúdo, lembrou-se de aumentar a sua capacidade alargando-se.
Não passou muito tempo até que a ideia começasse a ser imitada. Todos os poços utilizavam grande parte das suas energias a alargar-se para criarem mais espaço no seu interior. Um poço, pequeno e afastado do centro da cidade, começou a ver os seus colegas que se alargavam desmedidamente. Ele pensou que se continuassem a alargar-se daquela maneira, dentro em pouco confundir-se-iam os parapeitos dos vários poços e cada um perderia a sua identidade…

Talvez a partir dessa ideia, ocorreu-lhe que outra maneira de aumentar a sua capacidade seria crescer, mas não em largura, antes em profundidade. Fazer-se mais fundo, em vez de mais largo. Depressa se deu conta de que tudo o que tinha dentro dele lhe impedia a tarefa de aprofundar. Se quisesse ser mais profundo, seria necessário esvaziar-se de todo o conteúdo…
Ao princípio teve medo do vazio. Mas, quando viu que não havia outra possibilidade, depressa se meteu a fazê-lo.
Vazio de posses, o poço começou a tornar-se profundo, enquanto os outros se apoderavam das coisas das quais ele se tinha despojado…
Um dia, algo surpreendeu o poço que crescia para dentro. Dentro, muito no interior e muito no fundo…encontrou água!
Nunca antes nenhum outro poço tinha encontrado água.
O poço venceu a sua surpresa e começou a brincar com a água do fundo, humedecendo as suas paredes, salpicando o seu parapeito e, por ultimo, atirando a água para fora.
A cidade nunca tinha sido regada a não ser pela chuva, que na verdade era bastante escassa. Por isso, a terra que estava à volta do poço, revitalizada pela água, começou a despertar.
As sementes das suas entranhas brotavam em forma de erva, de trevos, de flores e de hastezinhas delicadas que depois se transformaram em árvores…
A vida explodiu em cores à volta do poço afastado ao qual começaram a chamar “Vergel”.
Todos lhe perguntavam como tinha conseguido aquele milagre.
-Não é milagre nenhum - respondeu Vergel- Deve procurar-se no interior, até ao fundo.
Muitos quiseram seguir-lhe o exemplo, mas aborreceram-se da ideia, ao darem conta de que para serem mais profundos se tinham de esvaziar. Continuaram a encher-se cada vez mais de coisas…
No outro extremo da cidade, outro poço decidiu correr também o risco de se esvaziar…
E também começou a escavar…
E também chegou à água…
E também a salpicou até ao exterior criando um segundo oásis verde no povoado…
- Que vais fazer quando a água acabar? – Perguntavam-lhe
- Não sei o que se passará – respondia ele. – Mas por agora, quanto mais água tiro, mais água há.
Passaram-se meses antes da grande descoberta.
Um dia, quase por acaso, os dois poços deram-se conta de que a água que tinham encontrado no fundo de si próprios era a mesma…
Que o mesmo rio subterrâneo que passava por um inundava a profundidade do outro.
Deram-se conta de que se abria para eles uma vida nova.
Não somente podiam comunicar um com o outro de parapeito em parapeito, superficialmente, como todos os outros, mas a busca também os tinha feito descobrir um novo e secreto ponto de contacto.
Tinham descoberto a comunicação profunda que somente conseguem aqueles que têm a coragem de se esvaziar de conteúdos e procurar no fundo do seu ser o que têm para dar…




Jorge Bucay, in “Contos para pensar”- pp. 97-100